segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Cinema brasileiro em alta


No dia em que é comemorado, o cinema nacional já tem motivos para festejar

CAROLINA MENEZES
Da Redação
Jornal O Liberal, Magazine
Belém, Segunda, 05 de novembro de 2007


Este 5 de novembro, Dia do Cinema Brasileiro, merece comemoração especial: há anos o Brasil não tinha uma produção cinematográfica tão efervescente para se orgulhar, como tem hoje. Na década de 70, os filmes pipocavam. Nos anos 80, a produção caiu e, a partir de 1990, com a extinção da Embrafilmes, do Conselho Nacional de Cinema (Concine), da Fundação do Cinema Brasileiro, do próprio Ministério da Cultura e, claro, das leis de incentivo – tudo isso durante o mandato do então presidente da República, Fernando Collor de Melo –, houve época em que eram produzidos apenas seis filmes (ou menos) por ano.
A boa fase atual pode ser atribuída, sim, a uma melhora técnica. As produções de hoje tem outro padrão de qualidade, e devem muito pouco ou nada aos filmes estrangeiros. No entanto, um dos fatores que atrasa a imponência do cinema feito no Brasil frente ao mercado é, por incrível que pareça, o próprio público (sem falar na dificuldade de captação de recursos...). Exigente como nunca, o espectador paga o exorbitante preço do ingresso para assistir aos água-com-açúcar, thrillers, comédias-besteirol e outros tipos que parecem ser produzidos em massa – é claro que o nome 'Estados Unidos' merece destaque aqui como a grande representação dessa indústria de filmes –, mas a-do-ra colocar defeito no made in Brazil. E o máximo do elogio é sair do cinema dizendo 'pô, nem parece filme brasileiro!'.
O cineasta e dono da produtora Caiana Filmes, João Inácio, sabe muito bem a dificuldade de fazer cinema no Brasil – mais especificamente na região Norte, Estado do Pará, onde ele nasceu e mora até hoje. Mesmo assim, ele bateu o pé pelo que queria e, em dez anos de carreira, produziu quatro curtas e um longa-metragem. 'Sempre quis fazer cinema, eu estudei muito no início, fiz cursos em Belém e no Rio de Janeiro, trabalhei com muita gente boa. Essa é a minha vocação, mas é muito difícil consegui recursos pra tudo, temos que buscar fora. Falta uma política mais enérgica para o fomento de nossa produção, o Norte é a bola da vez no audiovisual, a Rede Globo já fez uma minissérie na região e a HBO está produzindo outra, mas filmes aqui só são feitos por gente que vem de fora! Acredito que com as novas políticas de edital teremos uma nova era e de produção local do audiovisual paraense'.
Inácio está em fase de captação de recursos de seu curta 'Shala', sobre um menino que mora em um abrigo para adoção e que vive a criar artimanhas para ser adotado. 'O Ministério da Cultura concedeu R$ 80 mil, o que garante o início do projeto, porque o filme foi contemplado no Concurso de Apoio à Produção Cinematográfica Inédita de Curta-Metragem. Foram só 20 projetos selecionados em todo o país, quase mil inscritos. Agora eu e minha equipe estamos correndo atrás do restante dos recursos', conta. 'A maior dificuldade é ter garra de conseguir produzir sabendo que você vai ser mal remunerado por muito tempo, porque ainda não existe um mercado local de produção em cinema, então as produções não empregam constantemente, e esses profissionais tendem a ou migrar para outras áreas ou sair de Belém. Há uma promessa do Governo do Estado em publicar editais de fomento a produção no ano que vem, isso já será um divisor de águas na história do cinema paraense, muita gente terá a real oportunidade de colocar seus roteiros para rodar, o mercado vai aquecer e os profissionais não terão mais que sair de Belém pra fazer cinema. Eu rezo para que isso aconteça', diz.
Crítico lamenta o nosso distanciamento dos festivais internacionais
O crítico de cinema Marco Antônio Moreira vai direto ao ponto, sem rodeios. 'Algumas coisas mudaram, outras não. O número de filmes produzidos por ano no Brasil subiu, recuperou um ritmo. A qualidade técnica está bem melhor do que antes, até porque as tecnologias estão mais baratas e acessíveis, e isso faz com que a gente seja bem visto no país e lá fora. O filme brasileiro hoje tem boa fotografia, bom roteiro, boa montagem, bom áudio. Claro que, como qualquer indústria cinematográfica, tem filmes bons e ruins. Mas apesar das boas mudanças, ainda há um distanciamento entre o Brasil e os festivais internacionais. E eu nem me refiro ao Oscar, que tem, na minha concepção, um critério de seleção duvidoso, falo de outros eventos que possam dar o reconhecimento ao cinema brasileiro', explica.
E continua: 'Também ainda sofremos com o problema da distribuição. Nem todas as produções nacionais chegam ao circuito comercial, e se chegam, é por causa de uma obrigatoriedade imposta pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) de o circuito exibir pelo menos uma produção nacional. E as sessões dificilmente têm bom público, as salas ficam quase que vazias durante a projeção do filme. E essa realidade não é só no cinema. Em qualquer locadora o índice de locação de filme nacional é baixíssimo', lamenta Marco Antônio.
Os espectadores também acabam, às vezes, complicando uma 'subida' dos filmes brasileiros por conta de preconceitos. 'Muita gente ainda acha que é ruim. Critica se tem palavrão ou cena de sexo, coisa que tem em quase todo filme norte-americano, é uma contradição esse tipo de queixa! Aí acontece que o último filme que o cara viu foi ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ e ele diz que cinema brasileiro é ruim. Eu e outros críticos daqui como o Pedro Veriano, a Luzia Miranda Álvares e tantos outros, falamos do que nós sabemos. A gente vai pro cinema ver tudo, somos obrigados a ver para que não aconteça de fazermos o que a maioria faz: falar do que não se conhece', alfineta Marco Antônio.
O crítico, quando admite que já há, apesar de tudo, uma procura maior por filmes nacionais, não gosta de incluir 'Tropa de Elite', de José Padilha, na história. 'É um filme bom, sim, traz uma realidade interessante. Mas é um caso isolado por conta da pirataria e tudo mais. O que acontece é que o povo não vai ao cinema se não tiver global como protagonista, já reparou? Não acho que ‘Tropa’ fez sucesso por causa do Wagner Moura. ‘Saneamento Básico’, do Jorge Furtado, foi desprezado pelo público e também tinha ele no papel principal. E é assim com muitos filmes. Dos cerca de 60 produzidos por ano, a gente só conhece cinco ou seis! Filme brasileiro não é lançado, ele é jogado no mercado. Não há uma boa estratégia de divulgação planejada para ele. É uma situação triste, eu penso, mas num contexto geral, acho que já estivemos bem pior. Eu acredito que a tendência é melhorar, justamente pela melhora técnica. É preciso ser otimista', afirma.
Doze anos sem incentivo às produções locais
Sempre envolvida com produções audiovisuais no Estado do Pará, a produtora de projetos culturais, Márcia Macedo, diz que 2007 foi ano de plantio dos produtores paraenses. 'Não dá pra esquecer que foram doze anos sem políticas públicas voltadas para esse tipo de atividade. Com o novo Governo, entrou a iniciativa do Instituto de Artes do Pará (IAP), que tem tido uma força real no fomento da produção de animações. A todo o momento saem os resultados de editais federais, as elaborações de roteiro para longas-metragens. Eu vejo um novo momento a partir do próximo ano, e vejo com muito otimismo', reforça.
Para Márcia, este 5 de novembro é um dia de esperança para os cineastas paraenses. 'Onde a gente leva a produção do Pará, nos festivais e mostras, somos muito bem recebidos. Temos coisas boas, de qualidade, não só na capital, mas como no interior também, e a gente tem ido em busca desses novos olhares', conta.
O cinema brasileiro é mais que entretenimento e justamente por isso merece uma valorização diferenciada, afirma a produtora. 'Coisa que me irrita é crítica dura ao cinema brasileiro. A gente compra um lixo cultural estrangeiro todos os dias, 95% dos filmes americanos são péssimos! Aqui, temos roteiros diretos, filmes como ‘Dois Filhos de Francisco’, que cumprem uma função social. Mas é lamentável que, pra muita gente, o cinema brasileiro precise de histórias fantásticas e impecáveis para ser considerado e respeitado', dispara.

3 comentários:

Walério Duarte disse...

Fala João. Só hj li o roteiro. Cara, além da história ser tocante, o roteiro está muito bem estruturado. A tal "curva dramática" está bem delineada. Parabéns mesmo.

Lorenna Montenegro disse...

Olá João, Estou de volta a Belém, parabéns pelo prêmio, soube pela Zienhe. A história é bem tocante e fico bem curiosa em relação a como você irá transpor para a tela. meus votos de sucesso nessa empreitada!
bjo

Nata disse...

Obra que o mundo precisa assistir. Parabéns pelo trabalho de altíssima qualidade!
O mundo agradece.